segunda-feira, 5 de março de 2012

Em dois meses, polícia registra três ataques de grupos neonazistas no RS

05/03/2012 00h00 - Atualizado em 05/03/2012 - 06h10

Em Caxias do Sul, em janeiro, um jovem de 17 anos foi esfaqueado.
Para delegado, nova geração destes grupos 'é preocupante'.

Fábio Almeida Da RBS TV
 
Material apreendido com suspeitos de praticarem atos neonazistas no RS (Foto: Fábio Almeida/RBS TV)
Material apreendido com suspeitos de praticarem atos neonazistas no RS 
(Foto: Fábio Almeida/RBS TV)
 
Somente nos dois primeiros meses de 2012, a polícia registrou três ataques de grupos neonazistas com vítimas no Rio Grande do Sul. Além de Porto Alegre, as ações também ocorreram em Caxias do Sul, na Serra, onde um jovem de 17 anos foi esfaqueado no dia 15 de janeiro. Os grupos não são novidade no estado. Desde 2002, foram diversos materiais apreendidos e pelo menos 35 pessoas indiciadas. Um dos casos mais violentos foi o atentado contra jovens judeus que foram esfaqueados em um bar de Porto Alegre, em 2005.
A reportagem da RBS TV localizou a família do menino agredido em Caxias, mas eles não quiseram gravar entrevistas, como medo de novos ataques. "Além do adolescente que foi identificado e que formalizou um registro de ocorrência, temos notícia de outro que foi agredido naquele mesmo dia. Estamos efetuando diligências no sentido de identificar este jovem (agressor)", diz a delegada Suely Rech, da Polícia Civil.

Pichação neonazista em Caxias do Sul. O 14 representa o número de palavras de um slogan racista: "Devemos assegurar a existência de nosso povo e um futuro para as Crianças Brancas". O 88 representa a repetição da oitava letra do alfabeto, o H, de Hiel Hit (Foto: Fábio Almeida/RBS TV)
Pichação neonazista em Caxias do Sul
(Foto: Fábio Almeida/RBS TV)
 
No dia seguinte às agressões, materiais como facas, bastão retrátil e soqueiras, uma delas com o símbolo da cruz de ferro, uma honraria militar usada pelos nazistas durante a Segunda Guerra, foram apreendidos. Ainda em Caxias do Sul, uma pichação em um muro marca um território. Segundo os moradores do bairro Santa Lúcia, as marcas foram deixadas depois de uma festa no início do ano. Homens de preto e com a cabeça raspada faziam uma comemoração.
"O movimento neonazista é cíclico. Eles partem para ação, há uma comunidade, onde se encontra toda uma manifestação. Também tem a imprensa registrando, então eles recuam. Deixam passar algum tempo e voltam", comenta Jair Kruschke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.
Para o delegado Paulo César Jardim, que acompanha os neonazistas no estado há mais de 10 anos, é preocupante a nova geração destes grupos. "Eles adoram decorar o corpo com inúmeras tatuagens, adoram fazer pose, tirar fotografias mostrando que são machões. Mas quando vamos conversar, dialogar sobre ideologia, alguns livros, algumas obras, eles se perdem. Eles não sabem conversar sobre aquilo que eles dizem que acreditam", diz.
Em Porto Alegre, na madrugada do último dia 4 de fevereiro, câmeras de segurança registraram grande movimentação em frente a um bar na Avenida Independência, região central da cidade. Em seguida, foi verificada uma correria e o início de uma briga. "Era um rapaz franzino, que estava com um skate na mão, usava dreads no cabelo, devia ter uns 18, 19 anos. Ele foi agredido por um grupo de 5, 6, até 7 pessoas grandes, de cabeça raspada, que batiam nele covardemente, todos ao mesmo tempo, pelas costas", conta uma testemunha que não se identifica.
Esta mesma testemunha também assistiu a uma outra cena que assustou muita gente na mesma noite. "Eles foram andando pela Independência e começaram a bater no peito, esticar o braço e gritar heil, heil, heil. Também gritavam Porto Alegre é nossa e coisas do tipo. Para mim foi ali o momento que ficou claro o que estava acontecendo", acrescenta o jovem.
Na sequência de ataques deste ano, o que chama a atenção da polícia são os laços com uma organização internacional e a ousadia dos neonazistas gaúchos ao revelar a conexão. O grupo que está agindo na Serra e em Porto Alegre prega o ódio e racismo, e que se espalha por todo o mundo, a Blood and Honour (Sangue e Honra). No site da organização, imagens indicam a ligação: neonazistas gaúchos, chamados de Divisão do Sul, que chegam a substituir a suástica pelo brasão da bandeira do estado.

Fonte: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2012/03/em-dois-meses-policia-registra-tres-ataques-de-grupos-neonazistas-no-rs.html