sexta-feira, 9 de março de 2012

ESPECIAL - Cerca de 50% das terras agrícolas do município estão em situação desregular

Com um contingente proporcionalmente maior de agricultores, as cidades de Corupá, Massaranduba e Schroeder estão buscando a adequação das suas propriedades rurais.

Pedro Henrique Leal
Publicado 09/03/2012 às 10:36:57 - Atualizado em 09/03/2012 às 11:16:39
 
Corupá: Averbação é gratuita, porém mais da metade das terras estão irregulares. 
(Fotos: Marcele Gouche)

Antes que se encerre o prazo para a averbação e que o novo Código Florestal entre em vigor, as cidades de Corupá, Massaranduba e Schroeder estão buscando a adequação de suas propriedades rurais. Porém, a falta histórica de aplicação da lei e a precariedade de informação aos agricultores dificultam o serviço. Em alguns casos, a produção chega a invadir o leito dos rios.
No município de Corupá, mesmo com a incerteza a respeito das mudanças no Código Florestal, o foco da Secretaria da Agricultura é garantir que os 3.183 moradores da região rural terminem a averbação das reservas legais e o mapeamento as APPs (Áreas de Preservação Permanente) antes que o prazo se encerre, no dia 11 de abril. Dos municípios do Vale do Itapocu, é o único a garantir a gratuidade do registro, que envolve 23% da população.
Porém, segundo o engenheiro agrônomo responsável por coordenar o programa de averbação, Thiago Vinícius Leal, cerca de 50 a 60% das terras agrícolas no município devem continuar em situação irregular.
“Aqui em Corupá são poucos produtores que respeitam as margens dos rios. E no caso dos ribeirões, só faltou plantar dentro da água. Se for forçar o afastamento, muitos terão que desistir e ir para a cidade”, afirma. Segundo Leal, mesmo que seja aprovada a isenção de averbação da reserva legal, ainda será cobrada a preservação de ao menos 20% da propriedade.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Denilson Pedrelli, o alto índice de ocupação irregular se deve a falta de conhecimento. “A legislação já existia, mas muitas pessoas sem saber da lei invadiram áreas onde não poderiam ser utilizadas”, explica, lembrando que, mesmo sem a fiscalização, a legislação deveria ter sido respeitada.
No seu entendimento, a proposta de reforma do código beneficia em muito os produtores rurais. “Porém nós temos muitos produtores que vão ter perdas com as APPs nos morros e no leito dos rios, e que esperam que sejam consolidadas ou que os limites sejam atenuados”, comenta.

Epagri nota irregularidade
O engenheiro agrônomo e inspetor do Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), George Livramento, avalia que o impacto da aplicação do código pode ser ainda maior: até 70% das propriedades rurais de Corupá estariam invadindo áreas destinadas a preservação. “A maioria dos terrenos está sendo usado para cultivo perto demais dos rios ou nas encostas dos morros”, explica.
Outra questão preocupante, segundo o engenheiro, é a isenção da reserva legal para propriedades de pequeno porte. “Os agricultores familiares estariam dispensados da averbação, mas o ideal seria que a reserva legal pudesse incluir às áreas de APP. Desta maneira, temos a reserva sem que o pequeno agricultor fique sem terreno”, afirma.
Ele destaca ainda que nem todas as pequenas propriedades devam ser enquadradas como agricultura familiar. Isso porque, muitos pequenos produtores têm fontes de renda fora da produção rural, como familiares trabalhando fora, ou em micro empresas.
O impacto maior, diz Livramento, deve ser para a bananicultura, o principal produto agrícola do município: se aplicado o código atual, em torno de 65% dos bananais teriam de ser abandonados.
Mesmo com o novo código, ainda seriam perdidas 15% das terras. “Por isso tem que ser muito bem estudado como serão definidas as APPs para não deixar os agricultores sem produção”, comenta, lembrando que a regularização das áreas já consolidadas é extremamente importante para a região.  A reportagem tentou contatar a Asbanco (Associação dos Bananicultores de Corupá), mas não obteve resposta.

Sindicato questiona preservação
Enquanto em outros municípios os sindicatos ruralistas defendem a importância da preservação, mas criticam as consequências para os agricultores, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba, Lúcio Stolf, é mais áspero. Na sua leitura, mesmo com o novo código, o impacto será excessivo.
“As palmeiras e as bananeiras, em especial, vão se perder tudo, já que o cultivo é nos morros, que serão APP”, crítica, antes de questionar a relevância da preservação. “Aqui em Santa Catarina já temos 51% de mata preservada, precisa de mais?”, pergunta.  Dos 14.674 habitantes de Massaranduba, 7.068 (48,16%) vivem na região rural.
De acordo com o secretário da Agricultura, Fábio Baldussi, se não forem regularizadas, as APPs devem prejudicar a maioria dos agricultores de Massaranduba. “Se manter a lei dos 30 metros nos leitos dos rios, Massaranduba vai ter um prejuízo descomunal, por que tem várias propriedades com dois, três rios dentro”, comenta, lembrando que mesmo com 15 metros as perdas devem ser consideráveis.
De acordo com Baldussi, 90% dos terrenos do município se enquadrariam para a isenção da reserva legal.  “O grande problema se não houver a isenção é que a maioria das escrituras foram repassadas desde o bisavô, medidas com corda, e tem muitos erros”, afirma.
Mas para Stolf, independente da isenção, muitas propriedades devem ser inviabilizadas. “Com o número de córregos que tem na região, muitas propriedades serão inviabilizadas pelo afastamento”, alega. O sindicato aguarda a aprovação do código para definir como irá lidar com as restrições.

Área urbana está congelada, diz líder sindical
O secretário de Planejamento de Massaranduba, Fabiano Spézia, explica que o município já está preparado para aplicar o código na área urbana. “Nós já tomamos a decisão de seguir o código em toda a área urbana, e agora estamos resolvendo as situações que já estavam irregulares”, conta.
O poder público determinou no ano passado o congelamento da imagem atual, e está mapeando o território urbano com a ajuda do Estado. “Daqui para frente, qualquer coisa além da imagem que já existe terá que respeitar o código”, afirma. O que já está dentro das APPs será analisado caso a caso, para analisar se há a possibilidade de compensação.

Fonte: http://www.ocorreiodopovo.com.br/codigo-florestal/especial-cerca-de-50-das-terras-agricolas-do-municipio-estao-em-situacao-desregular-8186677.html