15/06/2012 | 08h42min
Rapaz de 19 anos não consegue se alimentar, tomar banho ou ir ao banheiro sozinho
Uma estudante de 21 anos que mora em Joinville está vivendo um drama incomum, que envolve o trabalho, os estudos, a família e que, agora, chegou ao Ministério Público: o irmão dela, um rapaz de 19 anos com deficiência intelectual severa, foi abandonado em fevereiro deste ano.
A irmã é a única que aceitou cuidar do jovem, que precisa de atenção especial 24 horas por dia. A mãe foi embora e não quis mais saber do filho. O pai diz que não quer “mais esse problema”.
A história começa ainda na infância dos irmãos, em Atalanta, perto de Ituporanga, no Vale do Itajaí. Uma mulher teve dois filhos, uma menina e um menino, este com deficiência intelectual. As crianças foram criadas pelos avós maternos.
Cansada da vida no interior e sem chances para crescer, a menina deixou a família e chegou aos 16 anos em Joinville para estudar e trabalhar. A adolescente terminou o ensino médio e começou a fazer faculdade. O sonho dela é se formar e ter toda a estrutura que não teve em casa. Mas um episódio no ano passado, mudou a vida dela.
— A vó foi hospitalizada e foi para a UTI. Dias depois, morreu.
A mãe e o irmão ficaram sem ter para onde ir. A filha ficou comovida e convidou-os para vir morar com ela. Mesmo sem ter condições, disse que acolheria os que ainda restavam da família.
A mãe permaneceu alguns meses em casa, sem trabalhar. Em fevereiro deste ano, fugiu e, desde então, não dá notícias. A filha, que sai às 6 horas de casa para trabalhar e retorna só à noite, depois da aula, ficou com o irmão. O problema é que ele não consegue se alimentar, tomar banho e nem ir ao banheiro sozinho. Precisa de acompanhamento o dia inteiro.
Ela tentou procurar a mãe, que foi morar com as irmãs. Mas, segundo a filha, ela não quer mais saber do garoto. Mandou até que se livrasse dele, que entregasse para um padrinho.
— Ela disse ‘faz o que você quiser, não quero ele’ —, contou.
Sem coragem de abandonar o irmão, a estudante resolveu buscar ajuda.
De manhã, o irmão vai para a Apae, mas à tarde e à noite fica em casa, sozinho. Não há
parentes em Joinville. Nos últimos dias, ele tem saído de casa. A jovem diz que não tem condições de largar o emprego, nem de cuidar dele. Ela paga aluguel, faculdade e ainda é responsável por dar alimentação e roupas para o garoto. E não tem outra fonte de renda.
— A vó falava que eu não ia fazer nada da vida. Que ia plantar fumo. Não quero desistir da faculdade. Ele sofre e eu sofro. É bem complicado —, diz.
O pai dos irmãos mora desde 1999 em Otacílio Costa e é diácono de uma igreja evangélica. Segundo ele, atualmente é casado, não tem outros filhos e mora de favor na casa da sogra. Sobrevive com a renda da aposentadoria que recebe por invalidez. À reportagem, por telefone, ele disse que nunca foi procurado pelos jovens.
— Os avós (maternos) disseram que eu estava morto —, conta.
Ele diz pagar uma pensão de R$ 183.
— Todo mês cai na conta.
Ele diz não ter condições de ficar com o filho.
— Por enquanto, não posso fazer nada. Este problema não posso resolver —, disse.
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