quarta-feira, 4 de abril de 2012

Os bastidores da prisão da quadrilha que explodiu caixa eletrônico em Luis Alves

04/04/2012 às 08h03min - Atualizada em 04/04/2012 às 08h03min


Um modus operandi peculiar foi a principal pista para a Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic) desarticular a quadrilha que dinamitou um caixa em Luis Alves, Vale do Itajaí, na madrugada de domingo.


Os bastidores da prisão da quadrilha que explodiu caixa eletrônico em Luis Alves.jpg
Integrantes da quadrilha presos após confronto com a polícia

Se esconder no mato com kits de sobrevivência durante as primeiras 24 horas depois dos ataques era característico da "Quadrilha do Rozini", nome dado em referência a seu líder, Luiz Ricardo Rozini, 22 anos, morto durante a prisão do grupo, na troca de tiros com os policiais, um dia após o ataque.
Titular da Furtos e Roubos da Deic e responsável pela investigações, delegado Diego Azevedo, contou com exclusividade o passo a passo da prisão.

Com a informação sobre o modo de operar dos quadrilheiros, Azevedo calculou que o caminho era chegar na pessoa que faz o resgate no mato, peça-chave que levaria a polícia ao restante do bando.

No caso, o homem da logística e piloto de fuga do bando, Giliardi Fernandes, 21 anos, desempregado, nascido em Camboriú e morador de Balneário Camboriú. O único que não tinha passagem policial.

As equipes de todas as divisões da Deic, sob o comando dos delegados Azevedo, Ana Ramos Pires e Claudio Monteiro, com apoio das Dics (Divisão de Investigações Criminais) de Balneário Camboriú e Itajaí, e da Polícia Civil de Luís Alves, se espalharam. Uma ficou, desde a noite de domingo em Luis Alves e, a outra, em carros descaracterizados, montou campana na casa de Giliardi, em Balneário.

Enquanto a Deic seguia na estratégia de captura da quadrilha, a PM fazia buscas na região. Por acaso, pessoas que estavam numa lanchonete, nas margens da SC-413, na pacata Luis Alves, perceberam dois homens desconhecidos tomando café, cerca de 37 horas depois do ataque na cidade. E chamaram a polícia.

Segundo o delegado Celso Pereira de Andrade, da Dic de Itajaí, na abordagem da PM na lanchonete, por volta das 7h, um dos homens colocou a mão na mochila como se fosse pegar uma arma e então foi baleado na perna.

Era Fernando da Conceição, 35 anos, um dos seis integrantes do grupo, foragido da Colônia Penal Agrícola de Palhoça, três dias antes do ataque a São João Batista, em 7 de janeiro passado, no qual sua quadrilha seria a autora junto de outro bando.

O parceiro dele conseguiu escapar. Até às 15h30 de ontem, o sexto integrante estava foragido e ainda não havia sido identificado. Na mochila de Conceição, havia uma pistola 9mm com numeração raspada. E na cueca, quase R$ 3 mil em dinheiro.

O homem foi encaminhado ao hospital em Itajaí, onde permanecia até ontem. Conceição e o sexto integrante teriam saído do mato para achar um lugar onde pegasse o celular e, com fome e dinheiro no bolso, resolveram ir a lanchonete.

As buscas continuavam. Barreiras foram montadas na região. Por volta das 8h, helicóptero Águia da PM de Joinville encontrou o carro usado pela quadrilha, escondido em um matagal a cerca de seis quilômetros do centro de Luis Alves.

Provavelmente, perto de onde três quadrilheiros ficaram esperando o resgate, com seus kits de patê, biscoito, feijão em lata, repelente, remédios para dor, gripe, mertiolate, esparadrapo, quatro espingardas calibre 12 semi-automáticas, uma pistola .40 (restrita das forças policiais), quatro bananas de dinamite, máscaras balaclavas e pelo menos R$ 20 mil em dinheiro.

Vestidos com colete a prova de balas, Juliano Salcedo Martinez, 26 anos, gaúcho de Tramandaí, que disse trabalhar em comunicação visual, William Gabriel de Oliveira, 23 anos, que disse trabalhar com estamparia, e o chefe da quadrilha, aguardavam o piloto Giliardi. O líder Rozini vivia suas últimas horas de vida.

Seguindo o motorista da quadrilha

Por volta das 13h30min de segunda-feira, o piloto da quadrilha, que não teria participado do ataque, saiu de casa sozinho em um Golf prata.

Giliardi foi seguido durante os cerca de 50 quilômetros até Luis Alves. A polícia não viu o resgate porque preferiu manter a distância necessária para não ser percebida naquela região rural, pouco habitada e de estrada de terra, conhecida como Massarandubinha.

Mas outra equipe da Deic já estava esperando na BR-101, na rota que a quadrilha já tinha usado na fuga de Pomerode: a SC-474, que desemboca na rodovia federal. O Golf prata foi seguido durante dez quilômetros pela BR-101, até a abordagem pelos mais de 10 policiais, na altura da cidade de Piçarras.

Giliardi acelerou e Juliano, William e Rozini dispararam contra a polícia. A troca de tiros durou cerca de um quilômetro. Até que o melhor atirador da equipe da Deic alvejou três pneus do Golf.

O carro perdeu a direção e bateu na mureta de acostamento. Rozini saiu do carro e na fuga foi baleado e morreu na hora. Uma equipe da Deic ainda ficou na região e apreendeu na casa de Rozini, em Itajaí, meio quilo de cocaína, meio quilo de crack, três lanternas, binóculos e 15 bananas de dinamite.

As lanternas teriam sido usadas nos ataques de Pomerode e São João Batista. A quadrilha também é suspeita de ataques em Itapema e Balneário Camboriú. Juliano, William e Giliardi foram apresentados à imprensa, ontem, na Deic, na Capital, onde ficaram presos.

O bando será indiciado por formação de quadrilha, roubo, tentativa de homicídio, posse de explosivo, tráfico de drogas e associação para o tráfico.

— O dinheiro dos caixas sustenta o tráfico de drogas — observou Azevedo.

Diretor da Deic, Claudio Monteiro deu um recado às quadrilhas que ainda estão em liberdade.

— Se vierem a Santa Catarina vão ser presos ou vão ser mortos. Porque se vieram para o confronto, nós vamos matar.