20/03/2012 - 18h01
Pelo menos dez rapazes foram submetidos ao procedimento. Membros do parlamento holandês irão defender inquérito sobre o caso
Resultados de uma investigação sobre casos de castração de adolescentes
pela Igreja Católica publicados pelo jornal NRC causaram comoção na
Holanda. Os documentos mostraram que, na década de 1950, pelo menos dez
jovens vítimas de abuso sexual teriam sido submetidos à retirada de seus
testículos como forma de "extirpar-lhes" a homossexualidade e puni-los
por suas denúncias de abusos sexuais.
Membros do parlamento holandês disseram no sábado (17/03) que vão
defender a abertura de um inquérito sobre as alegações. A apuração foi
conduzida por Joep Dohmen, jornalista estudioso do caso de Henk
Heithuis, holandês castrado por padres em 1956 depois de revelar à
polícia os abusos que sofrera ao lado de membros do clero.
Dois padres seriam condenados por esse abuso, mas pouco tempo depois a
polícia enviaria Heithuis para um hospital psiquiátrico católico, onde
registros alegam que a castração foi conduzida atendendo seu próprio
desejo. Não há, contudo, nenhum documento no qual o paciente de 20 anos
de idade expressa essa vontade.
Segundo Dohmen, algumas de suas fontes contam que “a remoção cirúrgica
dos testículos era considerada um tratamento para a homossexualidade e,
também, uma punição para aqueles que acusassem membros do clero de
abuso sexual”.
Embora ainda existam vários casos, Dohmen explica que a maioria deles
"é anônima e não pode ser mais investigada”. Tudo depende do desejo
“desses rapazes, hoje homens mais velhos, em querer compartilhar suas
histórias”.
Uma investigação oficial conduzida pelo ex-ministro da Educação
holandês Wim Deetman recebeu no último mês de dezembro cerca de 1,8 mil
relatos de abusos cometidos por dioceses católicas desde 1945.
Surgiram evidências na última segunda-feira (19/03) de que, na época,
oficiais do governo estavam cientes da castração de jovens em
instituições psiquiátricas mantidas pela Igreja Católica.
Relatórios de reuniões da década de 1950 revelam que inspetores do
Estado holandês estavam presentes durante os debates sobre a castração e
que membros do clero defendiam que os pais das vítimas não fossem
envolvidos no processo.
Há também alegações de que Vic Marijnen, ex-primeiro ministro holandês
morto em 1975, esteve vinculado ao caso. Em 1956, ele foi o diretor do
Internato de Gelderland, onde Heithuis e outras crianças sofreram
abusos.